As cartas patrimoniais são documentos que fornecem fundamentação teórica-crítica para que os bens culturais sejam preservados como documentos fidedignos, garantindo, assim, o efetivo suporte do conhecimento e da memória coletiva e também estabelecendo bases deontológicas para os vários profissionais que trabalham no campo da preservação (Kühl, 2010: 288).
As cartas são textos sucintos e precisos, com caráter indicativo, ou, no máximo prescritivo (e jamais normativo) e, importante salientar, não são receituário que devem ter uma simples aplicação direta; contudo suas análises devem ser fundamentadas para que tenha o entendimento de suas formulações (Kühl, 2010:289).
As cartas são os resultados de discussões de um determinado momento (é necessário entender quais foram as razões para essas discussões) e têm uma finalidade e, por isso, não podem ser usadas conjuntamente, em razão de que cada carta possui uma função es-pecífica e devem ser lidas na sua integridade, pois se sua leitura for feita em partes podem levar a interpretações errôneas e equivoca-das (Kühl, 2010:289).
Para o entendimento dessas discussões é necessário, obrigatoriamente, pautar-se nos instrumentos teóricos – que não são regras fixas, mas princípios e critérios – que conduzem as soluções adequadas de intervenção, para que, de fato, seja efetiva a preservação dos aspectos documentais, materiais, formais, memoriais e simbólicos do patrimônio em questão.
Portanto, verifica-se que a ausência do conhecimento do campo disciplinar do restauro, principalmente o entendimento desses instrumentos norteadores para as tomadas de decisões, resulta em profissionais que não têm consciência da responsabilidade que é trabalhar com bens de interesse para a preservação e no ambiente preexistente, não tendo instrumental teórico-crítico e técnico–operacional necessário para atuar no campo. O resultado mais visível tem sido a constante deformação e destruição das obras arquitetônicas isoladas e do tecido urbano, que são base importante de transmissão do conhecimento e suporte da memória coletiva tendo por consequência um instrumental limitado para as gerações futuras.
Profa. Dra. Ana Paula Farah. Arquiteta urbanista, formada pela FAU-PUCCAMP e Facoltà di Architettura da Università degli Studi di Ferrara (IT), Especialista em Patrimônio Arquitetônico pela FAU PUC-Campinas e PUC-PR, Mestre em Tecnologia do Ambiente Construído pela EESC-USP e Doutora em História e Fundamentos da Arquitetura pela FAU-USP; Professora da FAU-PUC-Campinas.
Confira a lista completa de Cartas Patrimoniais