O ‘ano difícil, totalmente típico’ de 2020 teve impacto sobre a cadeia da construção civil, mas diversos representantes do setor de Arquitetura e Engenharia avaliam que o mercado já conseguiu se recuperar, retomando os níveis de atividade pré-pandemia. O cenário para 2021, no entanto, é desafiador.

Em síntese, esta foi a avaliação dos participantes da ‘live’ sobre o cenário atual do setor da Construção Civil e Mercado Financeiro promovida pelo CAU/SP na quarta-feira, 16, e transmitida pelo canal do Conselho no portal YouTube.

“Houve um susto, diante de um cenário desconhecido, foi um ‘stand by’ até a gente entender tudo que estava acontecendo”, afirmou o presidente do CREA-SP, Vinicius Marchese Marinelli, sobre o impacto inicial da pandemia do novo coronavírus.

“Aos poucos vieram os decretos que declarava a construção civil como atividade essencial, ou seja, já houve uma necessidade de continuidade dos serviços e em pouco tempo, a gente percebeu (…) [nas áreas] em que há uma atuação, uma atividade técnica com um responsável técnico – já começaram a se normalizar ali em três, quatro meses e hoje, estão acima dos índices de 2019”, avalia.

A mesma percepção foi reforçada pelo representante da Fiesp (a federação das indústrias de SP), o diretor do Departamento da Indústria da Construção (Deconcic), Soriedem Rodrigues:

“A construção civil, de um modo geral, deu um crescimento. Isso se deve a alguns fatores extremamente importantes (…) A atuação do governo, priorizando a construção civil, pela quantidade de empregos que ela gera, ajudou muito a atuação (…) neste semestre. Foi o único setor que esteve estável, com algumas variações durante o ano, mas sazonais, nada importante”.

“Nós temos uma expectativa muito grande para o ano que vem, segundo palavras dos presidentes do Secovi [sindicato do mercado imobiliário] e do Sinduscon [sindicato da construção civil]”, acrescentou.

No campo da Arquitetura e Urbanismo, o representante do CAU/MG também viu sinais de recuperação:

“No setor da construção civil, em termos de projetos e de arrecadação de RRT, a gente se estabilizou a partir de junho, e se comparar 2020, a partir desse período com agosto, que foi o boom de 2019 em função da aprovação do Plano Diretor – de Belo Horizonte,  nós estamos praticamente no mesmo patamar de 2019. (…) no mês de outubro, nós conseguimos superar 2019”, afirmou o presidente Danilo Silva Batista.

“Então, nós vemos que há um aquecimento do mercado de projetos – da nossa área – em função disso.”

Para o representante do setor financeiro, a injeção de recursos pelo governo ajudou a impulsionar o consumo de forma ampla.

“A partir do momento que o governo trouxe esses modelos de incentivo, de colocar mais dinheiro na economia, o consumo passou a voltar de forma significativa, porém com uma mudança: o consumo deixou de ser feito na parte física e passou para o mundo digital”, pondera o ‘head’ do banco BS2 Empresas, Breno Guelman.

“Então, esse dinheiro realmente foi colocado dentro da economia e foi usado para impulsionar o consumo – não só do dia a dia, mas também relacionado a parte de bens duráveis e não duráveis – de forma bem significativa durante o ano e causando efeito até hoje”.

Cenário de desafios

As autoridades participantes da ‘live’ do CAU/SP também indicaram alguns riscos para a continuidade da recuperação da cadeia da construção civil em 2021.

“Se por um lado, você tem o setor se aquecendo, no outro você tem no setor uma insegurança muito grande. (…) nas obras de alto padrão, a gente vê que as construtoras conseguem usar da sua criatividade e o público dela tem condição de absorver. Agora, as de médio e baixo padrão – os padrões populares – as construtoras não têm como repassar esse custo, mesmo porque tem uma série de tetos que eu não posso aumentar”, avaliou Joni Matos Incheglu, diretor administrativo do CREA-SP.

“É um cenário de desafios, por um lado animador, por conta desses números que a gente tem visto, mas por outro lado um cenário que requer alguma ponderação – para a gente dar um passo mais assertivo – para pegar essa onda, que está começando a crescer, de reaquecimento.”

“O que eventualmente pode contribuir negativamente com a construção civil pode ser: a pandemia, (…) que nós precisamos ter um cuidado. E nós temos um outro evento ano que vem, que é a eleição do Congresso, que pode derivar para caminhos diferentes, depende de quem vai virar presidente”, ponderou Soriedem Rodrigues, da Fiesp.

Políticas públicas mais agressivas

O presidente do CAU/SP, José Roberto Geraldine Junior, ressaltou os desafios gigantescos ainda por enfrentar em termos do déficit habitacional do país.

“A gente tem uma parcela muito expressiva da população desassistida com relação à oferta de produção habitacional”, afirmou.

“O nosso déficit segue gigantesco e o papel da Arquitetura, da Engenharia e da indústria da construção é também contribuir para que isso seja resolvido, ainda que gradualmente, tendo em vista, que para isso, seria importantíssimo termos políticas públicas mais agressivas por parte dos governos – tanto federal, quanto estadual – que poderiam contribuir com um suporte de gestão de subsídio para o nosso segmento, especialmente para a população de baixa renda”.

Veja abaixo a íntegra do evento:

Publicado em 18/12/2020
Da Redação