Em seu segundo e último dia, o Seminário Internacional “Gestão Inovadora de Bairros Históricos” teve como principais temas o desenvolvimento local solidário, a resistência urbana, além da realização de oficinas, relatos e encaminhamentos finais.
A mesa de debates teve a participação de Barbara Lipietz, da Unidade de Planejamento e Desenvolvimento de Bartlett da University College London (UCL); Carlos Leite, urbanista e professor da FAU-Mackenzie; e Nadia Somekh, Conselheira do CAU/BR por São Paulo. Os debatedores foram Cláudia Pires, do IAB-MG, e Sérgio Miletto, produtor cultural e social.
Barbara Lipietz abriu a mesa e falou sobre a experiência londrina com o desenvolvimento local solidário, em uma cidade com uma população muito diversa e grande número de imigrantes.
“Os ambientes comunitários são vistos como muito importantes por serem espaços de refúgio, mais seguros e com um papel muito emocional. Por isso, procuramos trabalhar com o conceito de ‘insubstituibilidade’, tornando o planejamento urbano uma resposta positiva a essas comunidades”, explicou.
O bairro do Bexiga e a preservação do patrimônio com inclusão social
O urbanista Carlos Leite apresentou a experiência no bairro do Bixiga, em São Paulo, suas transformações e a preservação do patrimônio urbano com inclusão social. “Ao falarmos sobre urbanismo social, remetemos ao exemplo pioneiro de Medellin, entretanto, a cidade colombiana não detém os direitos sobre o conceito de urbanismo social, e por isso, podemos pegar esses grandes exemplos para trabalharmos em nossas cidades”, disse.
Nadia Somekh lembrou que a Associação Paulista de Críticos de Arte premiou o Bixiga pela sua resistência urbana. “Apesar de rasgado por grandes avenidas, o bairro se manteve por muito tempo protegido da gentrificação, e muito disso se deve por ter sido ocupado pela população mais pobre”, disse ela.
“Para que essa proteção se estenda é que são importantes os projetos urbanos inclusivos para bairros históricos”.
A responsabilidade de arquitetos e urbanistas
“Arquitetos e urbanistas são corresponsáveis no processo de diálogo sobre como gerir o patrimônio histórico, e essa é uma discussão que devemos fazer com a sociedade como um todo”, disse Claudia Pires, conselheira do IAB-MG.
Para o produtor cultural e social Sérgio Milleto, precisamos amadurecer como sociedade e mantermos pressão constante sobre os administradores públicos. “Problemas complexos exigem soluções complexas, por isso, não consigo ver como poderemos ter uma valorização do patrimônio público sem uma reforma fiscal e uma reforma do Estado”, disse Milleto.
Oficinas, local de produção de conhecimento
Arquitetos e urbanistas participaram das oficinas realizadas no segundo dia do seminário: “Fábrica de Restauro”, coordenada por Lizete Rlubano (FAU Mackenzie e CAU/SP); “Fórum do Patrimônio”, a cargo de Luiz Antônio de Souza (IAB); “Jornada do Patrimônio”, sob coordenação da arquiteta e urbanista Vanessa Correa; “Economia Criativa e Projetos Urbanos”, com Violeta Kubrusly (CAU/SP); “Financiamento e Sustentabilidade”, por Emerson do Nascimento (CAU/BR); e “Aprovação de Projetos de Restauro”, com Cassia Magaldi (CAU/SP).
A idealizadora do seminário, Nadia Somekh, fez um balanço das propostas discutidas durante a realização destas oficinas.
“Os encaminhamentos que tivemos foram muito importantes, e no esforço das oficinas que aconteceram em menos de três horas, conseguimos entender e trabalhar embebidos com o conhecimento que foi transmitido nesses dois dias”, afirmou.
Somekh reforçou a importância da assistência técnica, solicitando a inclusão de propostas específicas para a questão social e para a preservação do patrimônio. “Por isso, queremos um maior apoio do CAU”, ressaltou.
“Falamos ainda de modelos para os arquitetos desenvolverem projetos especificamente para o patrimônio. E essa é a primeira proposta: dar toda a força para a assistência técnica”, disse ela.
Um portal para as boas iniciativas
A arquiteta e urbanista destacou ainda a proposta de criar um portal com todas as experiências relatadas durante o evento, concentrando boas iniciativas sobre o tema para compartilhar esse conhecimento com a sociedade.
“Outra proposta é a constituição da ‘Rede Brasil Patrimônio’, com manifestos, cartas e inclusão de entidades da sociedade civil”, ressaltou, lembrando que esta proposta já conta com uma data fundamental ainda neste mês.
“O dia 30 de setembro é importante para nos esforçarmos e mobilizarmos um abraço ao Museu Nacional – será um domingo às 11h. Uma semana antes das eleições, é uma data escolhida estrategicamente para chamar a atenção da sociedade, a fim de recebermos ainda mais espaço nas discussões de temas relevantes à população brasileira”, disse Somekh.
Economia criativa e capacitação
Outra proposta destacada pela idealizadora do seminário internacional diz respeito ao tema da economia criativa, lembrando o exemplo do Departamento do Patrimônio Histórico na cidade de São Paulo, com o estímulo a novas iniciativas e ao trabalho das “startups” (empresas emergentes com foco em inovação).
“É importante também registrarmos a ideia das trilhas culturais em Perus, e para isso é interessante trabalharmos com a experiência de Chicago, onde um instituto de arquitetos locais promove roteiros que mostram a arquitetura e a história da cidade”, acrescentou.
A busca de recursos para a preservação do patrimônio histórico foi um dos temas discutidos ao longo das oficinas. A respeito desta questão, Somekh apontou as propostas da criação de fundos para este propósito, bem como de uma loteria específica para o tema.
“Uma última medida é voltada para capacitação conceituada e a promoção no CAU de projetos específicos com orientações técnicas de restauro, buscando nas comissões de ensino ampliar o tempo e o conteúdo das técnicas”, concluiu.
Publicado em 13/09/2018
Da Redação