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Especialistas debatem participação da sociedade para preservar patrimônio das cidades

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14.09.2018

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Redação CAU/SP

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Especialistas debatem participação da sociedade para preservar patrimônio das cidades

“Fortalecimento territorial, institucional e gestão” foi o tema da primeira mesa de debates do Seminário Internacional “Gestão Inovadora de Bairros Históricos”, nesta segunda-feira, dia 10/09, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo (SP).

Alain Lipietz, do Centre Pour la Recherche Économique et ses Applications – Centro para a Pesquisa Econômica e suas Aplicações (CECPREMAP), abriu os debates mostrando as transformações sofridas por Paris nos últimos séculos.

Segundo o palestrante, o poeta Charles Baudelaire já revelava nas suas obras questões de exílio e lembrança, como a antiga cidade. Napoleão foi o primeiro a pensar na restauração de edifícios burgueses. “Paris foi construída em ruas muito estreitas”, lembra o pesquisador, que aponta o desenvolvimento do capitalismo como o ponto inicial da verticalização da capital francesa: “Os ricos podem subir até o quarto andar com a criação de elevadores”.

Após a Primeira Guerra Mundial, há a expansão dos empreendimentos sociais ao redor do município. Hoje, os antigos bairros populares atraem a boemia. “As classes intelectuais tendem a ocupar bairros populares, jogando a população para fora”, pontuou Lipietz. Para o especialista, existe a necessidade de renovar sem excluir. “É preciso pensar nos espaços da comunidade, nos espaços verdes e, principalmente, nas periferias da cidade”, concluiu o especialista.

Sociedade mobilizada

Segundo Henry Russell (confira aqui a íntegra de sua apresentação), da Reading University e da Heritage Alliance (Reino Unido), é necessário que a sociedade mobilizada e organizada trabalhe para a preservação do patrimônio.

Segundo ele, o país se vale de várias instituições – como proprietários de moradias antigas urbanas e rurais, entre outras – para fortalecer os programas de preservação. Hoje, o Reino Unido conta com uma política nacional, que foi recentemente revisada por advogados.

As doações para o setor vêm, na sua maioria, do setor público, mas também surgem eventuais doadores de caridade e de corporações. Russell explica que o país conta com aproximadamente 4.500 edifícios tombados. “A chave é fazer com que o governo adote as políticas públicas. O governo nos escuta porque somos um setor amplo”, aponta o pesquisador.

Edésio Fernandes (confira aqui a íntegra de sua apresentação), da University College London (UCL), apontou que é preciso buscar um equilíbrio de conceitos, normas e regulamentações para o patrimônio histórico. “É inegável que o Brasil tem tendência a uma dificuldade de assimilação das políticas de preservação pelos proprietários de imóveis e pelo mercado imobiliário”, apontou.

Para o pesquisador, as soluções passam por discussões além do patrimônio. Ele disse que é necessário discutir cultura, economia tradicional e criativa, moradia, centralidade, lazer e agricultura urbana. “A cidade é uma construção coletiva”, ressaltou Fernandes.

Ação direta para enfrentar dificuldades

Durante os debates, Leonardo Castriota, do Instituto de Estudos de Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal de Minas Gerais, disse que o incêndio no Museu Nacional impactou a população, e que deve contribuir para o debate sobre a preservação do patrimônio histórico. “Eu vejo a possibilidade de uma ação direta da sociedade para enfrentar essas dificuldades”, disse.

Nivaldo Andrade, presidente do IAB/DN, ressaltou a necessidade de empregar ferramentas para manter o patrimônio cultural. “O IAB está propondo a criação de um fundo específico para o setor”, anunciou.

Hélio Costa Lima, arquiteto e urbanista, destacou que é preciso ampliar o debate sobre o tema. “A questão do patrimônio não deve permear somente os arquitetos e urbanistas. Precisamos da mão de outros especialistas”, disse.

Financiamento e sustentabilidade

A mesa “Financiamento e sustentabilidade do patrimônio”, além de arquitetos e urbanistas, também contou com a participação de dois economistas para abordar o tema delicado da fonte de recursos.

O economista Michael Ball (confira aqui a íntegra de sua apresentação), da Reading University, destacou que as cidades mudam continuamente, e que a velocidade dessas transformações ficou ainda mais acelerada nos últimos anos, colocando implicações dramáticas para a preservação das cidades. Conservar o patrimônio é caro, e demanda subsídios públicos, afirmou. Mas também é necessário estimular o investimento privado.

“Uma forma de fazer isso é fomentar o engajamento das instituições privadas, em que seria possível explicar porque é necessário trabalhar com a questão do patrimônio, e mostrar os resultados que isso pode trazer”, afirmou.

“Você não pode ter uma economia de mercado ativa sem explicar os benefícios de se preservar o patrimônio, porque senão o patrimônio não vai sobreviver”.

A economista brasileira Lidia Goldeinstein ponderou que as cidades que investem em regeneração urbana têm o potencial de formar cidadãos mais sofisticados, que serão fundamentais para enfrentar os desafios da chamada “Quarta Revolução Industrial”, focada em inovação.

A arquiteta e urbanista Kate Dickson (confira aqui a íntegra de sua apresentação), do Heritage Trust Network, um fundo britânico para preservação do patrimônio, abordou um exemplo real no Reino Unido.

Uma fábrica de máquinas a vapor construída em 1798 em Ancoats, Manchester (Reino Unido), estava em decadência desde a década de 1960. Através de esforços de voluntários, e lançando mão de recursos da loteria nacional, foi possível iniciar o processo de recuperação do edifício e atrair investidores da iniciativa privada.

“Murray´s Mills foi um catalisador fenomenal para a regeneração do resto da área: uma vez que o investimento público chegou, o desenvolvedor privado começou a se dar conta de que poderia arriscar a colocar dinheiro também, porque a região começou a melhorar. E tem muito trabalho para arquitetos por lá agora”, afirmou Dickson.

Os arquitetos Silvio Oksman (Escola da Cidade) e Vanessa Bello (CAU/SP) foram chamados para a fase de comentários da mesa.

Bello afirmou que é necessário pensar em preservação do patrimônio no âmbito de uma política urbana territorial. “Não estamos acostumados a fazer planos regionais nem considerando o ambiental, o urbano, ou as relações de economia regional; então, colocar a cultura e o patrimônio nesse ingrediente vai ser mais um desafio”, ponderou.

Oksman trouxe a tragédia do Museu Nacional no Rio para o debate sobre financiamento. “Eu, mais do que arrisco, eu afirmo sem o menor medo que não falta dinheiro, definitivamente não falta dinheiro; o que falta é gestão e organização para esse dinheiro chegar aonde precisa chegar”, ponderou.

Publicado em 14/09/2018
Da Redação

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14.09.2018

Escrito por:

Redação CAU/SP

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