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Morre o arquiteto Benedito Lima de Toledo, historiador de São Paulo

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31.07.2019

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Redação CAU/SP

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Morre o arquiteto Benedito Lima de Toledo, historiador de São Paulo

O CAU/BR lamenta informar o falecimento do arquiteto e urbanista Benedito Lima de Toledo, um dos mais importantes historiadores da evolução urbana da capital paulista, autor do clássico “São Paulo: três cidades em um século”.

Ele acabara de completar 85 anos no dia 22 de julho. Estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O velório ocorre a partir das 9 horas de hoje, dia 31, no cemitério Gethsemani. O sepultamento será às 16 horas.

Formado pela FAU/USP em 1961, foi professor titular de História da Arquitetura da graduação e pós-graduação da faculdade, para a qual deixa como herança  um acervo com cerca de 40 mil fotos, 25 mil slides e 6.500 livros. Ocupava a cadeira 39 da Academia Paulista de Letras.

Benedito Lima de Toledo foi bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa (1968). Obteve especialização em Restauro e Conservação de Monumentos Arquitetônicos na FAU/USP (1974) e na École Nationale des Ponts et Chaussées, em Paris (1983), com patrocínio da UNESCO.

Em “São Paulo: três cidades em um século”, Benedito Lima de Toledo mostrou como a capital paulista cresce e se modifica a uma velocidade tão grande que, de uma geração a outra, os jovens não conhecem arquitetonicamente a cidade onde viveram seu antepassados recentes.

Além de artigos publicados em jornais e revistas, ele é autor de vários outros livros,  destacando-se, além “São Paulo: três cidades em um século”, “Álbum iconográfico da Avenida Paulista” (1987), “Anhangabaú” (1989), “Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo” (1996). Em 1981, publicou “O Real corpo de Engenheiros na Capitania de São Paulo, destacando-se a obra do Brigadeiro João da Costa Ferreira”, sua tese de doutoramento na FAU/USP.

Partiu de Benedito Lima de Toledo a ideia de realização de um concurso público para a revitalização do Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, na década de 80. Na época, a Prefeitura apresentara projetos polêmicos para a remodelação da área e o arquiteto, em campanha que contou com a ajuda do jornalista Júlio Moreno, do “Jornal da Tarde”, acabou por dobrar a resistência para mudança de planos do prefeito Reinaldo de Barros e assessores. O concurso foi organizado pelo IAB/SP, saindo-se vencedora a proposta dos arquitetos e urbanistas Jorge Wilheim e Rosa Grena Kliass que transformou o vale em um bulevar de 43 mil metros quadrados, com o tráfego de automóveis ficando abaixo e recriando a área verde entre os viadutos do Chá e Santa Ifigênia.

Benedito Lima de Toledo foi um dos responsáveis, juntamente com o arquiteto Carlos Lemos,  pelo levantamento dos edifícios de valor cultural do centro de São Paulo, em 1974, a pedido do engenheiro João Evangelista Leão, então titular da Coordenaria Geral do Município, ligada ao gabinete do prefeito. O estudo deu origem a uma lei de preservação da região, de 1975, a primeira do Patrimônio Histórico de São Paulo. Também foi um dos que mais batalhou pela preservação da Vila Itororó, no tradicional bairro do Bexiga, tendo realizado em 1974, em parceria com o arquiteto Décio Tozzi.  um projeto de restauro para o conjunto formado por um palacete “surrealista” e dezenas de casinhas. O projeto foi parcialmente executado em 2014.

Outros livros e textos publicados com colaboração foram “São Paulo: Belle Époque”, com desenhos Diana Danon” (1974);  “A imperial cidade de São Paulo vista por Militão”, no “Album comparativo da cidade de SãoPaulo, 1862- 1887” (1981); “São Paulo: registros 1899-1940”, com José A. V. Pontes, com fotos do Acervo Eletropaulo (1982); “Do séc. XVI ao início do séc. XIX: maneirismo, barroco e rococó”, em “História geral da arte no Brasil. São Paulo” (1983); “Frei Galvão: um arquiteto paulista”, em “Museu de Arte Sacra. Mosteiro da Luz” (1987); “Calixto e a iconografia paulistana”, em “Pinacoteca do Estado, São Paulo – Benedito Calixto: memória paulista” (1990); “O edifício na cidade: uma visão urbanística”, em “Museu Paulista: um monumento no Ipiranga” (1997); “A cidade de Santos: iconografia e história”, em “Revista USP, São Paulo. Engenho dos Erasmos” (1999) e ‘Robert Chester Smith e a arquitetura no Brasil”, em “Robert C. Smith (1912-1975). A investigação na História da Arte” (2000).

Benedito Lima de Toledo era detentor de prêmios e outras distinções, destacando-se entre outros: Prêmio Pero Vaz de Caminha, concedido pelo governo português (1969); Medalha de ouro da Prefeitura de São Bernardo do Campo, em reconhecimento aos estudos e levantamentos feitos sobre a área da Serra do Mar e respectivos monumentos (1975); Voto de reconhecimento e gratidão, aprovado por unanimidade pelos membros do CONDEPHAAT, pelos relevantes serviços prestados em prol da causa da preservação do patrimônio histórico e ambiental do Estado de São Paulo (1987); Medalha comemorativa Rodrigo Melo Franco de Andrade (50 anos do SPHAN), por trabalhos atuantes na defesa de nossa memória e cultura (1987); Prêmio CLIO de História da Arquitetura Urbana pelo livro “Álbum iconográfico da Avenida Paulista” – Academia Paulista de História/ SP (1989); Agraciado com o Colar do Centenário pela obra “Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo”, selecionada como a melhor obra publicada no Estado de São Paulo, na Área de História. Concedido pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (1997).

O arquiteto era filiado à ANPAP (Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas); ao CBHA (Comitê Brasileiro de História da Arte”; ao CIHA (Comité Internacional dHistoire de lArt, da França); ao ICOMOS – Internacional Council of Monuments and Sites, da França e Brasil) e à Sociedade Brasileira de Estudos do Século XVIII.  Era também consultor “ad-hoc” das instituições CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (DF); CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (DF); FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (SP).

Nos últimos anos, vinha realizando vários trabalhos de peritagem e consultoria a instituições e órgãos governamentais, na área da arquitetura e em projetos de preservação, restauração e reconversão de bens culturais.

Depoimentos sobre a vida e obra de Benedito Lima de Toledo

Décio Tozzi, arquiteto e urbanista:
“O Benedito foi uma das figuras mais importantes da cultura brasileira. Era um historiador muito rigoroso. Em nossa colaboração para o projeto de restauro da Vila Itororó, a contribuição dele foi essencial porque foi um trabalho de restauro histórico, em que ele já tinha feito todo um trabalho de pesquisa, e que infelizmente não foi bem aproveitado”.

Lúcio Gomes Machado, professor do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto FAU-USP:
“Ele foi um dos mais importantes professores de História da Arquitetura, um grande pesquisador, e que foi também uma das bases fundamentais para o departamento de história e estética da Arquitetura da FAU-USP. Tem obras notáveis sobre a História da Arquitetura de São Paulo e da Arquitetura brasileira”.

Gilberto Belleza, arquiteto e urbanista, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e ex-presidente do CAU/SP:
“É uma perda enorme, porque foi um grande historiador da Arquitetura paulista e brasileira. Tinha uma grande capacidade de produzir obras de importância, como ‘São Paulo: três cidades em um século’, em que ele conta a história da construção e da reconstrução da cidade de São Paulo. É interessantíssimo e um de seus livros mais importantes. Quando fizemos a curadoria da 7ª Bienal de Arquitetura [2007], reservamos uma sala especialmente para a obra do Benedito Lima de Toledo, e foi uma homenagem muito importante para ele”.

Sarah Feldman, Professora Livre Docente Sênior do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo:
“Na vasta obra de Benedito Lima de Toledo, destaco o levantamento realizado com Carlos Lemos, em 1974, de edifícios e conjuntos urbanos em São Paulo para subsidiar a ação de preservação do recém-criado órgão de planejamento do governo municipal, a Coordenadoria Geral de Planejamento (Cogep).
Esse trabalho, ao mesmo tempo em que ampliou a noção de monumento histórico, incorporando obras modestas como de interesse histórico ou cultural, em sintonia com os princípios da Carta de Veneza de 1964 e da Declaração de Amsterdã de 1975, foi decisivo para incorporar o patrimônio no planejamento das áreas urbanas e do planejamento físico territorial da capital. ”

Nádia Somekh, conselheira federal do CAU/BR por São Paulo:

“Como estagiária da Cogep/DPFH, tive a sorte de compartilhar com Benedito Lima de Toledo um vôo de helicóptero que fotografava as futuras Z8-200. A última vez que estive com o profesor foi em 2015 na palestra que organizamos na Semana do Patrimônio. Uma vida de contribuição para a valorização do Patrimônio Histórico”.

Nivaldo Andrade, arquiteto e urbanista, presidente do IAB/DN:

“Benedito Lima de Toledo ficou conhecido principalmente pelo seu inigualável trabalho sobre a história urbana e a arquitetura de São Paulo e sobre a preservação do patrimônio cultural, tendo se tornado uma das referências nestes temas. Foi dele a ideia, no início dos anos 1980, de realizar um concurso público para a revitalização do Vale do Anhangabaú, vencido por uma equipe formada, dentre outros, por Jorge Wilheim e Rosa Kliass. Aquela foi uma ação que mudou a paisagem do centro de São Paulo e foi uma das primeiras experiências no Brasil de retorno à priorização dos pedestres nos espaços públicos, após o processo de ‘rodoviarização’ que caracterizou nossas cidades a partir de meados do século passado. Aquele concurso foi organizado pelo IAB, e nosso Instituto se orgulha imensamente de tê-lo tido entre seus sócios.”

Paulo Markun, jornalista:

” O arquiteto Benedito Lima de Toledo se encaixa naquele tipo de pessoa que não é necessário melhorar o perfil depois de sua morte. Sempre foi um gentleman, um estudioso de São Paulo e da arquitetura, um paciente e dedicado entrevistado, capaz de aturar jovens jornalistas como eu, no início dos anos 70 e veteranos em busca do depoimento indispensável sobre a Vila Itororó, quase 50 anos mais tarde – minha última conversa com ele é parte do documentário da série Arquiteturas, para o SESCTV.  

Pousada a caneta. desligado o gravador e a câmera, Benedito continuava gentleman, bem humorado, atencioso, preciso. Nunca perdeu a paciência,me dava a impressão. Jamais desistiu de algumas batalhas, quase quixotescas, como a de imaginar que pudessemos olhar para o passado com carinho e atenção e construir cidades e sociedades mais justas, mais humanas. Não é só a Arquitetura brasileira que perde um defensor. É mais do que isso”.

Júlio Moreno, jornalista, atual Chefe da Assessoria de Comunicação do CAU/BR:

“É mandatório do jornalismo um distanciamento das fontes em nome da isenção. No caso de Benedito Lima de Toledo para mim foi impossível sustentar essa regra. ‘Repórter de cidade’ iniciante no Jornal da Tarde, nos primeiros anos da década de 70, ele foi mais do que uma fonte, foi um professor que ensinou com fraternidade como ‘ler’ a cidade com base em sua arquitetura e planos urbanos. 
Dedicava-me longas horas de entrevistas em seu escritório da avenida Brigadeiro Luis Antônio, muitas vezes seguidas de um jantar em sua casa, com a agradável companhia do pai. Acompanhei de perto o levantamento que deu origem à Z8-200, responsável pela preservação do centro de São Paulo.
O jornal, conhecido pelo seu projeto gráfico de vanguarda,  e  por abrir vantajosos espaços para os assuntos da cidade, publicou duas páginas inteiras com fotos de todos os bens listados, material que depois virou referência em muitas escolas de Arquitetura e Urbanismo. 
No caso da reurbanização do vale do Anhangabau, o JT encampou a ideia do Benedito em defesa de um concurso público e iniciamos uma campanha com notícias quase que diárias a respeito. Tive a sorte de ter sido seu parceiro nessa briga.
Devo contar, com orgulho, que toda vez que cruzava com o prefeito Reinaldo de Barros eu lhe perguntava se acataria ou não a ideia do Benedito. Ele sempre negou até que um dia, em seu gabinete, eu disse que faria a pergunta pela última vez.  E ele, para minha surpresa, disse sim. A vibração de alegria de Benedito, quando lhe dei a notícia, ficará para sempre entre outras boas lembranças que guardo dele”. 

Publicado em 31/07/2019
Fonte: CAU/BR

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31.07.2019

Escrito por:

Redação CAU/SP

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